Aumento da produção redobra cuidados e conhecimento para diversificação das variedades plantadas


O nome dado à cultura de Oliveira, planta cujo fruto é a oliva e seus respectivos produtos são a azeitona de mesa e o azeite de oliva, vem conquistando muitos adeptos nos últimos tempos. Trabalhar diferentes variedades e agregar outras a esse processo é a grande preocupação do especialista na área, Guajará Oliveira, que também é presidente da ARGOS- Associação Rio-grandense de Olivicultores, com sede em Ijuí. O especialista em Olivicultura se inseriu neste mundo de pesquisas no ano de 1996, quando começou a avaliar alguns lugares fora do Brasil em que se plantavam oliveiras, surgindo assim a pergunta, porque não plantar aqui?, deu-se assim o interesse pelo funcionamento desse processo. começamos a plantar e estudar, porque não tinha nada a respeito de oliveiras aqui na região, poucas informações no Rio Grande do sul, e menos ainda no Brasil. Então viajamos muito para a Espanha, Itália, Portugal, e fomos vendo a possibilidade de ampliar o conhecimento e nossas plantações. No ano de 2006, com aproximadamente 3000 pés de oliveiras, incentivamos a produção em Caçapava do sul, onde pesquisamos a questão do solo, já que percebemos que a oliveira não gosta muito de água, e aquela região é mais seca e arenosa, logo, a planta não tem problema com encharcamento de solos. Entretanto, ao longo do tempo vimos que dariam certo outras possibilidades, aqui poderia dar certo., conta Guajará sobre o início da cultura. O especialista e sua família são pioneiros na produção, tendo em vista que o primeiro azeite de oliva do Brasil, além das primeiras azeitonas de mesa, foi produzido por eles. As demais produções vieram depois, mas nos preocupamos porque o que aparece na mídia são estruturas econômicas que tem dinheiro para investir, mas que não estão fazendo o que deve ser feito, trabalhar a questão técnica e abordar a orientação dessas pessoas que querem investir. Além disso, esses produtores devem se associar em lugares com estrutura para o conhecimento. Hoje sabemos que temos em torno de mil variedades de oliveiras, sendo assim as perguntas são: qual a variedade que irá ser plantada? Qual solo ideal a ser utilizado? E qual variedade vai se adaptar àquele tipo de solo? explica. De acordo com os registros históricos, em meados de 1945 existiam oliveiras no Rio Grande do Sul, inclusive em Ijuí, o que prova que o problema de solo é uma questão que pode ser resolvida perfeitamente. basta trabalhar a questão das variedades, atualmente esse é o grande gargalo, pois nós não temos pesquisas, os órgãos públicos não trabalham essas questões, em universidades também é difícil ter esse tipo de pesquisa, de sair dessa comodidade, ou seja, o que tem por aí são repetições de trabalhos que já existem. Não avançamos muito nesse ponto. é preciso trabalhar os benefícios, saber mais sobre o tema. Fizemos cursos fora, conhecemos como funciona a planta, o processo econômico dentro dessa estrutura toda. Portanto, precisamos diversificar as plantações, essa queima de gordura que foi feita até agora, com esse conhecimento prévio em função do que a gente já tinha feito isso está se esgotando, se faz necessário avançar esse trabalho, até porque a olivicultura precisa de muitas outras variáveis para se desenvolver e dar certo afirma ele. Uma das grandes preocupações do cenário é a produção de azeite de baixa e média qualidade, isso porque não conhecemos, ou não sabemos todo o processo para fazer um azeite de qualidade. Não basta simplesmente pegar uma azeitona, colocar na máquina e triturar, vai sair resíduo para um lado e azeite para o outro, isso é a parte mais simples de tudo, qualquer um faz. Infelizmente é o que está acontecendo, muitas pessoas não levam em conta a estabilidade. Não se questionam quanto tempo vai durar aquele azeite? Como esta sendo armazenado? Será que ela foi colhida no momento adequado? Isso ninguém sabe… por isso, o grande alerta, muitos irão começar a plantar sem saber o que fazer. relata. Quanto ao lado financeiro, o mesmo argumenta que os produtores não irão plantar nada sem ter algum retorno financeiro. O viés é plantar, colher, vender para uma indústria, ou tu ter a própria indústria dentro da sua estrutura e produzir azeite de qualidade, porque azeite simples, comum, os supermercados estão abarrotados. Contudo, tem espaço para cultura, mas precisamos trabalhar isso de uma forma mais inteligente e menos no oba-oba, não podemos ir atrás de dois, três que estão trabalhando mais não tem muito conhecimento. Claro que eles querem vender plantas, óbvio que todo mundo vai querer isso, mas temos que pensar a cultura de outra forma, o que ela vai agregar dentro da matriz agrícola, onde ela vai se inserir ali, e qual o retorno que ela vai trazer para as pessoas que irão investir, até porque se ficar fazendo coisas dessa forma perde-se tempo e dinheiro, não tendo o retorno econômico esperado, completa. Ao fazer uma avaliação superficial, o presidente da ARGOS diz que um hectare pode produzir até 10 mil quilos de azeitonas. Desses 10 mil quilos de azeitona podemos extrair cerca de 2 mil litros de azeite, e ao avaliarmos quanto vale no mercado atual, fazemos um comparativo com a soja ou outra cultura, o que mostra que é muito rentável. Porém, é uma cultura que se planta hoje, mas o retorno será daqui a 5 anos, é uma árvore perene, tem que se desenvolver para produzir seus frutos. Existem todas essas questões para serem avaliadas. Logo, antes de cinco anos não se tem retorno nenhum, mas depois desse período vai pra frente, o produtor vai se preocupar apensa em fazer a manutenção das plantas e fazer o tratamento, mas ela vai produzir faça seca ou não. Hoje temos 20 hectares, 7 mil pés de oliveira, a primeira plantação do Rio Grande do Sul, além do maior jardim de variedades do Brasil, com quinze variedades sendo experimentadas, conclui.

“Nos dias 2 a 5 de setembro será realizada a 1ª feira de negócios de Olivicultura, no centro de eventos da PUC, uma feira internacional composta por países como Espanha, Itália, Tunísia, Argentina entre outros, com o intuito de trazer conhecimentos, produtos diferentes, jornada técnica, contando com os maiores especialistas do mundo, cientistas que trabalham com cultura há muitos anos, professores universitários e especialistas em plantas, solo, azeite, azeitona e resíduos.”

Correio Rural ( março de 2014)